Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Geógrafos (ENG)
Belo Horizonte – 22 a 28 de julho de 2012
UFMG – Campus Pampulha
MÍDIA
IMPRESSA E AS INFORMAÇÕES METEOROLÓGICAS DE SALVADOR – BA
Jéssica
de Andrade Gleizer
Graduanda
do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal da Bahia
Componente do Laboratório de
Estudos Ambientais e Gestão do Território – LEAGET
Mariana
Rosa dos Santos Guimarães
Graduanda
do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal da Bahia
Componente do Laboratório de
Estudos Ambientais e Gestão do Território – LEAGET
Diego
Corrêa Maia
Doutor
em Geografia – UNESP
Professor
Adjunto I do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia
Coordenador do Laboratório de Estudos
Ambientais e Gestão do Território – LEAGET
RESUMO
O presente trabalho tem a finalidade de
analisar como a mídia impressa transmite as informações meteorológicas
relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA). Para tal objetivo
foi realizada uma revisão bibliográfica acerca da utilização do jornal enquanto
ferramenta midiática da difusão da informação, bem como a sua utilização nas
aulas de Geografia. Ao arcabouço teórico desta pesquisa incorporam-se autores
da Geografia e estudiosos do ramo da Educação no Brasil. Os jornais escolhidos
para compor o material de análise desta pesquisa foram o Correio da Bahia e o jornal A Tarde, em razão da grande circulação
que os mesmos possuem na capital baiana. A partir da coleta, seleção e
organização, bem como da análise quali-quantitativa das reportagens
encontradas, foi organizado um banco de dados (em andamento) em meio analógico
e digital, visando principalmente sua utilização e aplicação em sala de aula.
PALAVRAS-CHAVE:
Climatologia,
mídia jornalística e ensino de geografia.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é produto de um projeto de pesquisa
intitulado “Mídia jornalística e o ensino da climatologia escolar” desenvolvido
no Grupo de Pesquisa GEOCLIMA vinculado ao Laboratório de Estudos Ambientais e
Gestão do Território (LEAGET) da Universidade Federal da Bahia, no qual
participam duas alunas bolsistas financiadas pelo PIBIC/UFBA e pelo Programa
Permanecer (UFBA).
O
presente artigo tem a finalidade de analisar como a mídia impressa transmite
as informações meteorológicas
relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA). Para tal objetivo
foi realizada uma revisão bilbiográfica acerca da utilização do jornal enquanto
ferramenta midiática da difusão da informação, bem como a sua possível
utilização nas aulas de Geografia. Ao arcabouço teórico desta pesquisa
incorporam-se autores da Geografia e estudiosos do ramo da Educação no Brasil,
bem como suas ciências afins.
Os
jornais escolhidos para compor o material de análise desta pesquisa foram
o Correio
da Bahia e A Tarde, em razão da
grande circulação que apresentam no território baiano, e mais especificamente
na sua capital. A análise temporal escolhida na concepção inicial do projeto foi
de dez anos (2000 a 2010), e o recorte selecionado para este artigo foi de três
anos (2000 a 2002) possibilitando demonstrar o objetivo do trabalho que está
sendo desenvolvio sobre as notícias jornalísticas que veiculam as informações
climáticas com repercussões espaciais em Salvador.
O
jornal é uma ferramenta indispensável na análise do cotidiano pois atua na
construção das representações sociais acerca do fenômeno climático, e por
seguinte, nos arranjos espaciais locais, ou seja, na construção e organização
do espaço. Segundo Ely (2008, p. 140):
“A mídia impressa tem se constituído em um importante meio de comunicação na atualidade. Por meio do registro e da divulgação que realiza compõem um veículo de comunicação cuja forma de (re)presentação da realidade pode ser compreendida em um perspectiva geográfica, pois é considerada um instrumentode de registro e construção da memória de determinadas geograficidades por abordar fatos sempre localizados espaço-temporalmente”.
Diante
do exposto, entende-se que o jornal, enquanto instrumento midiático de difusão
da informação é uma ferramenta indispensável nos estudos do espaço, pois localiza os acontecimentos ao
mesmo tempo em que os contextualiza no momento histórico vivido pela sociedade.
METODOLOGIA
A
trajetória teórico-metodológica deste artigo (Quadro 01) foi conduzida a partir da coleta, seleção e organização, bem
como da análise quali-quantitativa das reportagens encontradas, foi organizado
um banco de dados (em andamento) em meio analógico e digital, visando uma
investigação efetiva do objeto de estudo desta pesquisa e sua aplicação em sala
de aula.
A
análise das notícias selecionadas foi norteada por três critérios: erros
conceituais, presença de simplificações e lacunas de informação, tendo como
base Souza e Sant’Anna Neto
(2004). Além destes critérios, buscou-se um aprofundamento da análise do
discurso ao investigar como esses veículos de informação abordam os elementos
climáticos em suas conexões com o espaço geográfico.
A
forma de tratamento da notícia, os tipos de elementos climáticos abordados e os
diferentes problemas urbanos causados pelos eventos atmosféricos também foram
considerados nesta pesquisa.
Quadro
01 – Trajetória teórico-metodológica
Jornais pesquisados
|
Amostra
|
Os caminhos
|
Como trabalhamos
|
Variáveis analisadas
|
A Tarde
Correio
da Bahia
|
189
reportagens compreendidas entre o período de 2000 a 2002
|
Revisão
bibliográfica
Coleta,
organização e análise das notícias
Construção
do banco de dados (em andamento)
|
Fichamentos,
resumos e discussões de textos
Análise
e organização das reportagens
Elaboração
do artigo
|
Erros
conceituais
Presença
de simplificações
Lacunas
de informação
Análise
do discurso
Uso
didático
|
Elaborado e organizado pelos autores
Para a
avaliação individual, identificação e arquivamento das notícias jornalísticas,
recorreu-se a adaptação da proposta de planilha elaborada por Souza e Sant’Anna
Neto (2004) (Quandro 02). Procurou-se destacar
os fenômenos atmosféricos mais recorrentes na capital baiana e/ou aqueles que
mais recebem atenção dos veículos de informação, neste caso a mída impressa.
Desta forma, chuva, temperatura, vento e insolação foram escolhidos como
principais elementos climáticos (ou características) a serem investigados. O
mesmo procedimento foi realizado com os tipos de problemas urbanos causados,
optou-se por estudar com detalhes aqueles que historicamente provocaram e/ou
provocam mais agravos a cidade.
Quadro
02 – Quadro modelo para análise individual das manchetes
Planilha para informações sobre
as manchetes do jornal – número ( )
|
||||
Jornal
retirado:
|
||||
Data:
|
||||
Manchete:
|
||||
Caderno
e página:
|
||||
Estação
do ano:
|
||||
Tipo
de elemento climático:
|
Chuva
|
|||
Temperatura
|
||||
Vento
|
||||
Insolação
|
||||
Tipo de problema causado:
|
Alagamentos
|
|||
Comércio
|
||||
Deslizamento
de terra
|
||||
Doenças
|
||||
Engarrafamento
|
||||
Lazer
|
||||
Pavimentação
|
||||
Queda
de árvores
|
||||
Outros
|
||||
Fonte dos dados:
|
||||
Erros conceituais:
|
||||
Presença de simplificações:
|
||||
Lacunas de informação:
|
||||
Fonte: Adaptado SOUZA; SANT’ANNA NETO (2004).
A
partir desta planilha individual de notícias
outras foram geradas, com sínteses mensais e anuais dos dois jornais
analisados, a fim de desenvolver um perfil desses veículos de informação e sua
forma de tratamento dos fenômenos meteorológicos ocorridos em Salvador.
RESULTADOS
PRELIMINARES
Análise
quantitativa das notícias
O universo da pesquisa
compreende o total de 189 reportagens publicadas nos jornais A Tarde e Correio da Bahia no período de 2000 a 2002. O quadro 03 representa
a distribuição sazonal, e os elementos climáticos mais citados, bem como os
principais problemas urbanos causados na cidade de Salvador que foram retratados
nas reportagens analisadas.
Quadro
03 – Quantificação das reportagens analisadas de 2000 a 2002
A Tarde
|
Correio da Bahia
|
||||||
Reportagens
analisadas
|
107
|
82
|
|||||
Estação do ano
|
Verão
Outono
Inverno
Primavera
|
33
34
23
17
|
24
21
20
17
|
||||
Elemento
Climático
|
Chuva
Temperatura
Vento
Insolação
|
66
19
18
19
|
67
12
11
11
|
||||
Problemas Causados
|
Alagamentos
Comércio
Deslizamento de terras
Doenças
Lazer
Pavimentação
Queda de árvores
Engarrafamento
Outros
|
31
10
30
7
10
10
11
25
21
|
33
5
32
4
15
4
8
25
34
|
||||
Elaborado e organizado pelos autores.
A distribuição das reportagens analisadas nos jornais A Tarde e Correio da Bahia foram 107 e 82, respectivamente. Analisando o
Quadro 03, pode-se notar que as estações do ano que mais noticiaram informações
referentes ao tempo e o clima da cidade de Salvador foram, respectivamente, o
verão com 57 reportagens, o outono com 55, inverno com 43 e a primavera com 34
notícias. No período de verão os elementos e características climáticas mais citadas
são referentes a insolação, em contraposição ao outono onde predominam notícias
relacionadas a chuva, a temperatura e o vento. Esses dados confirmam o cenário
característico do clima tropical úmido da cidade de Salvador, com chuvas
predominantes no outono.
Os principais agentes produtores das notícias sobre fenômenos climáticos
veiculadas nos jornais analisados estão representados no Gráfico 01. A
chuva é o principal elemento produtor de noticiários, com o total de 133
reportagens, conforme podemos conferir no Quadro 03. A temperatura é o segundo
elemento mais citado nas reportagens, com 31 aparições. Em seguida a insolação
e o vento com 30 e 29 notícias, respectivamente.
Gráfico
01
O gráfico 02 representa
os principais problemas urbanos causados por fenômenos climáticos veiculados
nas notícias analisadas. Os alagamentos apareceram em 64 reportagens, seguido
de deslizamentos de terras e engarrafamentos.
Gráfico 02
Análise qualitativa das notícias
Análise
qualitativa das notícias
O jornal é uma “fonte de informação a ser analisada”
(SILVA, 2003, p. 105), e não simplesmente incorporada ao nosso cotidiano como
uma verdade eminente. A notícia jornalística está situada em um tempo-espaço
definido, portanto é um instrumento histórico que está inserido em um
determinado contexto social, carregando paradigmas ditados pelo momento.
Nunes
(2007) admite que a mídia tem dedicado atenção crescente à informação
climática, no entanto, a compreensão das informações sobre tempo e clima varia
de acordo com o interesse inidvidual de cada veículo de comunicação.
O jornalismo se propõe a processar informação em
escala industrial voltada para o consumo imediato, dessa forma, jornais são
segmentados de acordo com o público leitor e o potencial de consumo de cada um
deles, tornando-se um produto com intencionalidades claras: produção e consumo
(LAGE, 2006).
Abaixo reproduzimos trechos de notícias dos jornais A Tarde e Correio da Bahia publicadas entre o período de 2000 a 2002 (Quadro
04 e 05). Deu-se ênfase a reportagens que ilustrassem, de forma fulgente, os
elementos relacionados aos erros conceituais e discurso da mídia, critérios que
figuram parte do objetivo desta pesquisa.
Quadro 04 – Confusão conceitual entre os termos tempo e clima
Fonte: A TARDE e CORREIO DA BAHIA
(2000-2002).
Ao observar o Quadro 04
pode-se notar que os conceitos de tempo e clima são utilizados sem critérios de
definição. Segundo VIANELLO apud STEINKE
(2006), o tempo atmosférico é variável e constitui-se da soma total das
condições atmosféricas de um dado local, em um determinado tempo cronológico.
Enquanto o clima é a integração das condições do tempo de uma determinada área,
ou seja, para se caracterizar o clima de uma localidade é necessário pelo menos
30 anos de estudos. A confusão conceitual entre os termos tempo e clima
configura-se um erro crônico nas notícias analisadas.
O Quadro 05 ilustra as
contradições existentes entre notícias veiculadas nos dois jornais analisados
neste trabalho. A parte de maior destaque destas notícias começa pelas chamadas
que remetem ao mesmo evento meteorológico, neste caso a chuva, ocorridas nos
dia 14/09/00 e 17/06/01. Apesar das notícias se referirem ao mesmo evento,
ocorridos no mesmo dia, fica evidente que os jornais que veicularam estas reportagens
comportam intencionalidades distintas ao reportarem o fato jornalístico. Não se
pretende com este trabalho analisar quais são as razões destas
intencionalidades, mas apenas alertar que o trabalho da mídia não é imparcial;
a mesma chuva não tem como produto a mesma informação. O problema fundamental
consiste em saber interpretar que o jornalismo não se faz fora da sociedade e
do tempo histórico.
Quadro 05 – Contradição
entre notícias veiculadas sobre os efeitos da chuva na cidade de Salvador (BA)
Fonte: A TARDE e CORREIO DA BAHIA
(2000-2002).
Para Steinke et
al (2006), apesar dos problemas apresentados, o jornal ainda é o meio mais
eficiente de popularização da ciência, ferramenta esta que representa o
cotidiano do lugar em que vivemos, e que por isso nos submete ao significado
dos acontecimentos regionais/locais. São esses fatores que fazem do texto
jornalístico o objeto de estudo deste trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jornal é um instrumento de
fundamental importância para a análise do cotidiano, sobretudo para a
compreensão da organização e transformação do espaço geográfico, pois aborda
fatos localizados no espaço-tempo das cidades.
O jornal não
deve ser incorporado ao cotidiano de forma imediatista. A leitura da mídia josnalística deve ser norteada levando em
consideração critérios fundamentais como erros conceituais, presença de simplificações
e lacunas de informação, sem desconsiderar a intencionalidade dos fatos
proferidos pelos mesmos.
Ressaltasse o caráter preliminar dos resultados aqui
apresentados, entende-se que se faz necessário um maior aprofundamento desta
temática em estudos mais amplos. Este é objetivo do Projeto de Pesquisa “Mídia jornalística e o
ensino da climatologia escolar”. É intenção dos autores desta pesquisa seguir
adiante na investigação de como a mídia impressa
transmite as informações meteorológicas
relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA) e, sobretudo,
analisar como este veículo de informação atua na construção das representações
sociais e nos arranjos espaciais locais. Ainda é bastante limitado o
número de publicações que tratam deste assunto, fato que justifica a
importância da pesquisa ora aqui realizada.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
A TARDE. Chuva volta a
causar pânico em Salvador. Edição
de 14 de setembro de 2000.
______.
Alagamentos em vários locais transtornam
a vida da cidade. Edição de 17 de junho de 2001.
______.
Meteorologia prevê um outono com cara de
verão. Edição de 25 de março de 2002.
______.
Clima instável
favorece disseminação de gripe. Edição de 17 de junho de 2001.
CORREIO
da Bahia. Mudança de clima favorece o
surgimento de viroses. Edição de 16 de maio de 2000.
______.
Prefeito acompanha reação da cidade à
chuva inesperada. Edição de 14 de setembro de 2000.
______.
Chuvas fortes voltam a causar vários
transtornos à população. Edição de 17 de junho de 2001.
______.
Chuvas causam deslizamentos e
alagamentos. Edição de 16 de outubro de 2001.
ELY,
Deise Fabiana. Eventos climáticos e
mídia impressa em Londrina (PR): construindo uma abordagem a partir da análise
do discurso. Anais do VIII simpósio de climatologia geográfica, Alto Caparaó,
p. 138-151, 2008.
LAGE,
Nilson. Linguagem jornalística. 8ª
Ed. São Paulo: Ática, 2006.
NUNES, Lucí Hidalgo. O
papel da mídia na difusão da informação climática: o El Niño de 1997-98.
Geografia. Rio Claro, v. 32, p. 29-50, abr. 2007.
SILVA,
Ana Cristina Teodoro. A utilização do
jornal em sala de aula. Nuances: estudos sobre educação. São Paulo, v.09,
p. 103-109, dez. 2003.
SOUZA,
Camila Grosso de; SANT’ANNA NETO, João Lima.
A Imprensa como fonte de análise da adversidade climática. Anais do
congresso brasileiro de geógrafos, Goiânia: Associação dos Geógrafos
Brasileiros, 2004. CD-ROM.
STEINKE,
Ercília Torres et al. Como a mídia
impressa do distrito federal divulga fatos relacionados ao clima e ao tempo na
época da estiagem. Geografia. Rio Claro, v.31, p. 347-357, ago. 2006.