sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Trabalho apresentado no XVII Encontro Nacional de Geógrafos (ENG)
Belo Horizonte – 22 a 28 de julho de 2012
UFMG – Campus Pampulha



MÍDIA IMPRESSA E AS INFORMAÇÕES METEOROLÓGICAS DE SALVADOR – BA

Jéssica de Andrade Gleizer
Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal da Bahia
Componente do Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território – LEAGET

Mariana Rosa dos Santos Guimarães
Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal da Bahia
Componente do Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território – LEAGET

Diego Corrêa Maia
Doutor em Geografia – UNESP
Professor Adjunto I do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia
Coordenador do Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território – LEAGET


RESUMO

O presente trabalho tem a finalidade de analisar como a mídia impressa transmite as  informações meteorológicas relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA). Para tal objetivo foi realizada uma revisão bibliográfica acerca da utilização do jornal enquanto ferramenta midiática da difusão da informação, bem como a sua utilização nas aulas de Geografia. Ao arcabouço teórico desta pesquisa incorporam-se autores da Geografia e estudiosos do ramo da Educação no Brasil. Os jornais escolhidos para compor o material de análise desta pesquisa foram o  Correio da Bahia e o jornal A Tarde, em razão da grande circulação que os mesmos possuem na capital baiana. A partir da coleta, seleção e organização, bem como da análise quali-quantitativa das reportagens encontradas, foi organizado um banco de dados (em andamento) em meio analógico e digital, visando principalmente sua utilização e aplicação em sala de aula.

PALAVRAS-CHAVE: Climatologia, mídia jornalística e ensino de geografia.


INTRODUÇÃO

Este trabalho é produto de um projeto de pesquisa intitulado “Mídia jornalística e o ensino da climatologia escolar” desenvolvido no Grupo de Pesquisa GEOCLIMA vinculado ao Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território (LEAGET) da Universidade Federal da Bahia, no qual participam duas alunas bolsistas financiadas pelo PIBIC/UFBA e pelo Programa Permanecer (UFBA).
O presente artigo tem a finalidade de analisar como a mídia impressa transmite as  informações meteorológicas relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA). Para tal objetivo foi realizada uma revisão bilbiográfica acerca da utilização do jornal enquanto ferramenta midiática da difusão da informação, bem como a sua possível utilização nas aulas de Geografia. Ao arcabouço teórico desta pesquisa incorporam-se autores da Geografia e estudiosos do ramo da Educação no Brasil, bem como suas ciências afins.
Os jornais escolhidos para compor o material de análise desta pesquisa foram o  Correio da Bahia e A Tarde, em razão da grande circulação que apresentam no território baiano, e mais especificamente na sua capital. A análise temporal escolhida na concepção inicial do projeto foi de dez anos (2000 a 2010), e o recorte selecionado para este artigo foi de três anos (2000 a 2002) possibilitando demonstrar o objetivo do trabalho que está sendo desenvolvio sobre as notícias jornalísticas que veiculam as informações climáticas com repercussões espaciais em Salvador.
O jornal é uma ferramenta indispensável na análise do cotidiano pois atua na construção das representações sociais acerca do fenômeno climático, e por seguinte, nos arranjos espaciais locais, ou seja, na construção e organização do espaço. Segundo Ely (2008, p. 140):
“A mídia impressa tem se constituído em um importante meio de comunicação na atualidade. Por meio do registro e da divulgação que realiza compõem um veículo de comunicação cuja forma de (re)presentação da realidade pode ser compreendida em um perspectiva geográfica, pois é considerada um instrumentode de registro e construção da memória de determinadas geograficidades por abordar fatos sempre localizados espaço-temporalmente”.
Diante do exposto, entende-se que o jornal, enquanto instrumento midiático de difusão da informação é uma ferramenta indispensável nos estudos do espaço, pois localiza os acontecimentos ao mesmo tempo em que os contextualiza no momento histórico vivido pela sociedade.

METODOLOGIA

A trajetória teórico-metodológica deste artigo (Quadro 01) foi conduzida a  partir da coleta, seleção e organização, bem como da análise quali-quantitativa das reportagens encontradas, foi organizado um banco de dados (em andamento) em meio analógico e digital, visando uma investigação efetiva do objeto de estudo desta pesquisa e sua aplicação em sala de aula.
A análise das notícias selecionadas foi norteada por três critérios: erros conceituais, presença de simplificações e lacunas de informação, tendo como base Souza e Sant’Anna Neto (2004). Além destes critérios, buscou-se um aprofundamento da análise do discurso ao investigar como esses veículos de informação abordam os elementos climáticos em suas conexões com o espaço geográfico.
A forma de tratamento da notícia, os tipos de elementos climáticos abordados e os diferentes problemas urbanos causados pelos eventos atmosféricos também foram considerados nesta pesquisa.

Quadro 01 – Trajetória teórico-metodológica
Jornais pesquisados
Amostra
Os caminhos
Como trabalhamos
Variáveis analisadas

      A Tarde


Correio da Bahia
189 reportagens compreendidas entre o período de 2000 a 2002
Revisão bibliográfica

Coleta, organização e análise das notícias

Construção do banco de dados (em andamento)
Fichamentos, resumos e discussões de textos

Análise e organização das reportagens

Elaboração do artigo
Erros conceituais

Presença de simplificações

Lacunas de informação

Análise do discurso

Uso didático
Elaborado e organizado pelos autores

Para a avaliação individual, identificação e arquivamento das notícias jornalísticas, recorreu-se a adaptação da proposta de planilha elaborada por Souza e Sant’Anna Neto (2004) (Quandro 02). Procurou-se destacar os fenômenos atmosféricos mais recorrentes na capital baiana e/ou aqueles que mais recebem atenção dos veículos de informação, neste caso a mída impressa. Desta forma, chuva, temperatura, vento e insolação foram escolhidos como principais elementos climáticos (ou características) a serem investigados. O mesmo procedimento foi realizado com os tipos de problemas urbanos causados, optou-se por estudar com detalhes aqueles que historicamente provocaram e/ou provocam mais agravos a cidade.

Quadro 02 – Quadro modelo para análise individual das manchetes
Planilha para informações sobre as manchetes do jornal – número (  )
Jornal retirado:
Data:
Manchete:
Caderno e página:
Estação do ano:
Tipo de elemento climático:
Chuva



Temperatura



Vento



Insolação


Tipo de problema causado:
Alagamentos



Comércio



Deslizamento de terra



Doenças



Engarrafamento



Lazer



Pavimentação



Queda de árvores



Outros


Fonte dos dados:

Erros conceituais:

Presença de simplificações:

Lacunas de informação:

 Fonte: Adaptado SOUZA; SANT’ANNA NETO (2004).

A partir desta planilha individual de notícias  outras foram geradas, com sínteses mensais e anuais dos dois jornais analisados, a fim de desenvolver um perfil desses veículos de informação e sua forma de tratamento dos fenômenos meteorológicos ocorridos em Salvador.

RESULTADOS PRELIMINARES

Análise quantitativa das notícias
O universo da pesquisa compreende o total de 189 reportagens publicadas nos jornais A Tarde e Correio da Bahia no período de 2000 a 2002. O quadro 03 representa a distribuição sazonal, e os elementos climáticos mais citados, bem como os principais problemas urbanos causados na cidade de Salvador que foram retratados nas reportagens analisadas.

Quadro 03 – Quantificação das reportagens analisadas de 2000 a 2002


A Tarde
Correio da Bahia
Reportagens analisadas

107

82


Estação do ano




              Verão
Outono
Inverno
Primavera




33
34
23
17




24
21
20
17


Elemento
Climático







Chuva
Temperatura
Vento
Insolação







66
19
18
19







67
12
11
11




Problemas Causados










         Alagamentos
Comércio
Deslizamento de terras
Doenças
Lazer
Pavimentação
Queda de árvores
Engarrafamento
Outros










31
10
30
7
10
10
11
25
21

33
5
32
4
15
4
8
25
34

Elaborado e organizado pelos autores.

A distribuição das reportagens analisadas nos jornais A Tarde e Correio da Bahia foram 107 e 82, respectivamente. Analisando o Quadro 03, pode-se notar que as estações do ano que mais noticiaram informações referentes ao tempo e o clima da cidade de Salvador foram, respectivamente, o verão com 57 reportagens, o outono com 55, inverno com 43 e a primavera com 34 notícias. No período de verão os elementos e características climáticas mais citadas são referentes a insolação, em contraposição ao outono onde predominam notícias relacionadas a chuva, a temperatura e o vento. Esses dados confirmam o cenário característico do clima tropical úmido da cidade de Salvador, com chuvas predominantes no outono.
Os principais agentes produtores das notícias sobre fenômenos climáticos veiculadas nos jornais analisados estão representados no Gráfico 01. A chuva é o principal elemento produtor de noticiários, com o total de 133 reportagens, conforme podemos conferir no Quadro 03. A temperatura é o segundo elemento mais citado nas reportagens, com 31 aparições. Em seguida a insolação e o vento com 30 e 29 notícias, respectivamente.
Gráfico 01


                Elaborado e organizado pelos autores.

O gráfico 02 representa os principais problemas urbanos causados por fenômenos climáticos veiculados nas notícias analisadas. Os alagamentos apareceram em 64 reportagens, seguido de deslizamentos de terras e engarrafamentos.

Gráfico 02

      Elaborado e organizado pelos autores.

Análise qualitativa das notícias


Análise qualitativa das notícias

O jornal é uma “fonte de informação a ser analisada” (SILVA, 2003, p. 105), e não simplesmente incorporada ao nosso cotidiano como uma verdade eminente. A notícia jornalística está situada em um tempo-espaço definido, portanto é um instrumento histórico que está inserido em um determinado contexto social, carregando paradigmas ditados pelo momento.
Nunes (2007) admite que a mídia tem dedicado atenção crescente à informação climática, no entanto, a compreensão das informações sobre tempo e clima varia de acordo com o interesse inidvidual de cada veículo de comunicação.
O jornalismo se propõe a processar informação em escala industrial voltada para o consumo imediato, dessa forma, jornais são segmentados de acordo com o público leitor e o potencial de consumo de cada um deles, tornando-se um produto com intencionalidades claras: produção e consumo (LAGE, 2006).
Abaixo reproduzimos trechos de notícias dos jornais A Tarde e Correio da Bahia publicadas entre o período de 2000 a 2002 (Quadro 04 e 05). Deu-se ênfase a reportagens que ilustrassem, de forma fulgente, os elementos relacionados aos erros conceituais e discurso da mídia, critérios que figuram parte do objetivo desta pesquisa.


Quadro 04 – Confusão conceitual entre os termos tempo e clima

Fonte: A TARDE e CORREIO DA BAHIA (2000-2002).

Ao observar o Quadro 04 pode-se notar que os conceitos de tempo e clima são utilizados sem critérios de definição. Segundo VIANELLO apud STEINKE (2006), o tempo atmosférico é variável e constitui-se da soma total das condições atmosféricas de um dado local, em um determinado tempo cronológico. Enquanto o clima é a integração das condições do tempo de uma determinada área, ou seja, para se caracterizar o clima de uma localidade é necessário pelo menos 30 anos de estudos. A confusão conceitual entre os termos tempo e clima configura-se um erro crônico nas notícias analisadas.
O Quadro 05 ilustra as contradições existentes entre notícias veiculadas nos dois jornais analisados neste trabalho. A parte de maior destaque destas notícias começa pelas chamadas que remetem ao mesmo evento meteorológico, neste caso a chuva, ocorridas nos dia 14/09/00 e 17/06/01. Apesar das notícias se referirem ao mesmo evento, ocorridos no mesmo dia, fica evidente que os jornais que veicularam estas reportagens comportam intencionalidades distintas ao reportarem o fato jornalístico. Não se pretende com este trabalho analisar quais são as razões destas intencionalidades, mas apenas alertar que o trabalho da mídia não é imparcial; a mesma chuva não tem como produto a mesma informação. O problema fundamental consiste em saber interpretar que o jornalismo não se faz fora da sociedade e do tempo histórico.

Quadro 05 – Contradição entre notícias veiculadas sobre os efeitos da chuva na cidade de Salvador (BA)



                          Fonte: A TARDE e CORREIO DA BAHIA (2000-2002).


Para Steinke et al (2006), apesar dos problemas apresentados, o jornal ainda é o meio mais eficiente de popularização da ciência, ferramenta esta que representa o cotidiano do lugar em que vivemos, e que por isso nos submete ao significado dos acontecimentos regionais/locais. São esses fatores que fazem do texto jornalístico o objeto de estudo deste trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornal é um instrumento de fundamental importância para a análise do cotidiano, sobretudo para a compreensão da organização e transformação do espaço geográfico, pois aborda fatos localizados no espaço-tempo das cidades.
O jornal não deve ser incorporado ao cotidiano de forma imediatista. A leitura da mídia josnalística deve ser norteada levando em consideração critérios fundamentais como erros conceituais, presença de simplificações e lacunas de informação, sem desconsiderar a intencionalidade dos fatos proferidos pelos mesmos.
Ressaltasse o caráter preliminar dos resultados aqui apresentados, entende-se que se faz necessário um maior aprofundamento desta temática em estudos mais amplos. Este é objetivo do Projeto de Pesquisa “Mídia jornalística e o ensino da climatologia escolar”. É intenção dos autores desta pesquisa seguir adiante na investigação de como a mídia impressa transmite as  informações meteorológicas relacionadas ao tempo e o clima da cidade de Salvador (BA) e, sobretudo, analisar como este veículo de informação atua na construção das representações sociais e nos arranjos espaciais locais. Ainda é bastante limitado o número de publicações que tratam deste assunto, fato que justifica a importância da pesquisa ora aqui realizada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A TARDE. Chuva volta a causar pânico em Salvador. Edição de 14 de setembro de 2000.
______. Alagamentos em vários locais transtornam a vida da cidade. Edição de 17 de junho de 2001.
______. Meteorologia prevê um outono com cara de verão. Edição de 25 de março de 2002.
______. Clima instável favorece disseminação de gripe. Edição de 17 de junho de 2001.
CORREIO da Bahia. Mudança de clima favorece o surgimento de viroses. Edição de 16 de maio de 2000.
______. Prefeito acompanha reação da cidade à chuva inesperada. Edição de 14 de setembro de 2000.
______. Chuvas fortes voltam a causar vários transtornos à população. Edição de 17 de junho de 2001.
______. Chuvas causam deslizamentos e alagamentos. Edição de 16 de outubro de 2001.
ELY, Deise Fabiana. Eventos climáticos e mídia impressa em Londrina (PR): construindo uma abordagem a partir da análise do discurso. Anais do VIII simpósio de climatologia geográfica, Alto Caparaó, p. 138-151, 2008.
LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 2006.
NUNES, Lucí Hidalgo. O papel da mídia na difusão da informação climática: o El Niño de 1997-98. Geografia. Rio Claro, v. 32, p. 29-50, abr. 2007.
SILVA, Ana Cristina Teodoro. A utilização do jornal em sala de aula. Nuances: estudos sobre educação. São Paulo, v.09, p. 103-109, dez. 2003.
SOUZA, Camila Grosso de; SANT’ANNA NETO, João Lima. A Imprensa como fonte de análise da adversidade climática. Anais do congresso brasileiro de geógrafos, Goiânia: Associação dos Geógrafos Brasileiros, 2004. CD-ROM.
STEINKE, Ercília Torres et al. Como a mídia impressa do distrito federal divulga fatos relacionados ao clima e ao tempo na época da estiagem. Geografia. Rio Claro, v.31, p. 347-357, ago. 2006.